Wednesday, April 25, 2007

Abel vai embora. Fica Abel!


Abelardo chegou em 2006 para sua quarta passagem no clube onde despontou para o futebol em 1988. Foi recebido com grande suspeita pela torcida colorada, inclusive por mim. Os colorados temiam que o excelente time montado pela direção naufragasse junto com a sina de vice-campeão do treinador. Todos sabem que o simpático gordacho carregava um anjo da morte sobre os ombros e que a criatura lhe abandonou apenas em 2006, provavelmente alçando vôo de algum lugar na altitude de Quito. Ou quem sabe recebeu um bico de Rentería na angelical bundinha. A torcida do Inter amava Abel Braga desde 1989 pelo Gre-Nal do Século. E também o odiava pelo Campeonato Brasileiro perdido para o Bahia e pela desclassificação na Libertadores de 89 para o Olímpia.

Sou um grande admirador de Abel Braga. Sempre fui. Excelente pessoa, com fibra e caráter. Sofre pelos clubes que defende e era impossível não sentir compaixão pelos seus fracassos monumentais em edições da Copa do Brasil com Flamengo e Fluminense. Quando anunciaram sua contratação, pensei: "Ai, o Abel. Ele é tão gente boa, mas sempre estraga tudo no final. Lá vamos nós. Mais alguns anos sem títulos importantes".

No entanto, o retorno dele foi dessas coisas inexplicáveis no futebol. Nenhum treinador merecia mais estar junto com o clube nos momentos mais importantes da sua história recente. E agradeço a ele ao menos por isso, por estar junto. Tenho dúvidas sobre a importância dos treinadores em algumas conquistas, mas foi sob o seu comando que o Inter foi campeão da América e do mundo e fez algumas das partidas mais espetaculares a que assisti. Como contra a LDU, no Beira-Rio; contra o São Paulo, no Morumbi; e contra o Barcelona, no Japão.

Abel Braga é um doce lunático. Menos mal que em 2006 seus erros foram perdoados pelas entidades que zelam pela justiça futebolística. Mas em 2007 ele insistiu nos mesmos equívocos e os deuses já haviam dado uma banda para bem longe da Padre Cacique. Deu no que deu.

É impressionante como o convívio diário com o futebol acaba cegando as pessoas. Na Zero Hora saiu a informação de que Abel teria se arrependido ter renovado seu contrato antes mesmo do Mundial. Poderia ter saído por cima, no ponto máximo que um técnico consegue chegar em um clube. É isso mesmo, Abel. Tu rateou feio. Assim como Clemer, que já deveria ter largado e nos deixado com a última impressão de suas fabulosas defesas contra o Barcelona.

De alguma forma - não sei exatamente por que - sempre serei grato a Abel Braga. Talvez por tê-lo visto jogando-se de pança sobre Clemer após a classificação contra a Liga de Quito. Talvez por nos proporcionar fotos como a que ilustra o post. De repente, por uma empatia que se manifestou em algo como: "nós vivemos juntos o inferno desde 1989 e agora tudo ficou tão doce". Sei lá. No fundo, tenho vontade de tomar um trago com ele, FALAR DA VIDA, coisas assim.

Vá pela sombra, Abel. Tu é louco, mas é gente boa.

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O texto foi originalmente publicado no Impedimento, mas, por significar o fim de uma ERA no Inter, achei correto colocar por aqui também.

Friday, April 20, 2007

Nem Jesus conseguiu agradar a todos

Apóio a pessoa que chegou aqui através da busca pelo filme O grande búfalo branco, um dos melhores faroestes a que já assisti - talvez por ser um dos primeiros, visto ainda na infância.

Mas lamento ter decepcionado quem parou neste blog tentando encontrar vídeos de sacanagem com o patrão.

Wednesday, April 18, 2007

Da arte de ser um prognata

Cerca de três anos atrás, comecei a sentir certo desconforto na articulação da mandíbula. Logo depois, vieram os ESTALOS involuntários quando fazia determinados movimentos, como abrir a boca. Eram pontuais. Precavido, procurei um dentista acostumado a atender a família. É um velhote alemão, que, apesar de lembrar o Doutor Caligari, sempre mostrou-se simpático. Desde o início, me deixou claro que não era especialista, mas afirmou que havia uma desproporção entre minha mandíbula e o maxilar superior, sendo necessária uma cirurgia que implicaria SERRAR o osso da maxila inferior para um posterior encaixe da articulação. "Além disso, tu vais notar uma melhora estética." Obviamente, duvidei do parecer. "O velho enlouqueceu", pensei. "E ainda por cima tripudia das minhas peculiaridades estéticas."

Depois daquilo, tentei esquecer o assunto. Não procurei mais ninguém. Mas os estalos tornaram-se mais freqüentes e, às vezes, eram seguidos por dores localizadas na cabeça, principalmente na parte de trás, acima da nuca. Alguma dor ocasional na articulação também apareceu. Com algum tempo livre, na semana passada deixei em casa minha negligência relativa a problemas de saúde e fui a uma cirurgiã bucomaxilofacial. Entrei no consultório meio nervoso. A secretária estava assistindo a um desses programas bizarros que passam pela manhã na televisão. No caso, um senhor de meia-idade queria vender um ralo anti-ratos que ele mesmo inventara.

Quando entrei no consultório, tive o impulso de alertar que o batom rosa não combinava com a pele morena da médica, mas fiquei na minha. Muito simpática, ela. Mas não evitou o desconforto de que sempre sou acometido quando alguém enfia seis dedos na minha boa. "Abre e fecha", disse, colocando as duas mãos nas articulações, pouco abaixo das orelhas. "Teu caso necessita de uma cirurgia MACRODÔNTICA", me informou. A intervenção, em termos gerais, é como o Caligari havia me falado e tem como clímax a extração de um pedaço do osso. "É uma operação bem desgastante, tanto para o paciente como para quem faz." Desgastante para quem faz. Imediatamente, imaginei uma pessoa SUANDO de forma tresloucada, debruçada sobre a minha cara, serrando o osso da mandíbula, enquanto eu, anestesiado, sonhava com nenúfares.

"Tu precisa usar aparelho e depois fazer a cirurgia. Terás que ficar quinze dias com a boca fechada e a recuperação total demora cerca de seis meses." Além disso, me falou que é a única saída e que medicamentos seriam apenas paliativos. Alertou-me também sobre a necessidade de fazer uma placa ortodôntica para usar durante o sono, momentos em que mais tensionamos os músculos. Receitou relaxantes musculares para quando eu ficar meio NERVOSO. Saí de lá transtornado. Pensava que o Caligari estava equivocado, que seus métodos eram medievais - ou expressionistas - e que a única coisa que importava para ele era pensar na aposentadoria. Aproveito para pedir desulpas.

Pretendendo obter a avaliação CABAL, fui ao Hospital Santa Casa, onde os profissionais da área são extremamente qualificados, segundo a médica me disse. E o atendimento também é uma ternura. No consultório, vi um molde de mandíbula com o osso rachado, ligado por uma placa de metal e quatro parafusos pequenos. Percebi estar no lugar certo. O médico perguntou o motivo de minha presença. Desconforto. Estalos. Preocupação. Disse as mesmas coisas de outras oportunidades.

"Abre e fecha". Abri e fechei. "Tua mandíbula é muito grande. MUITO grande. Tua compleição facial é ANORMAL. Não anormal assim, de DEFICIÊNCIA, mas é bem PECULIAR." Tecnicamente, sou um prognata - ou prógnato -, aquele que tem as mandíbulas proeminentes. "Se tu viver até os 80 anos [otimista, ele] e não fizer a cirurgia, terás que conviver com a dor. Pode ser muita dor ou pouca dor, isso não podemos dizer ainda." Explicou-me que isso não é tão incomum como pode parecer, que pelo menos uma cirurgia dessas é realizada por semana. Afirmou também que os medicamentos não são suficientes, que a minha mordida é "cruzada" e, a exemplo do sábio Caligari, disse que terei uma melhora estética. "Não que as mulheres não te achem bonito."

Papo vai, papo vem, mordida cruzada, mandíbula serrada, exigiu: "coloca a língua para fora". Estendi o TENTÁCULO. "Barbaridade, mas o que tu tens aí é uma ARMA SEXUAL." Não consegui não gargalhar, sentindo um ORGULHO especial. O médico, provavelmente invejando minha posição de fonte inesgotável de prazer, advertiu, sério: "o problema é que a musculatura da língua tem muita força, causa muita pressão. Se tua mandíbula for recuada, a língua pode forçar os dentes. Pode ser necessário proceder com uma correção plástica". Desconfiado, exigi explicações, que diabos seria "correção plástica". "Cortar um pedaço", resumiu. Eu já sabia o que era. Evitei me manifestar, mas discordei, embora sempre tenha achado estranho o fato de conseguir lamber meu prórpio nariz.

Conceitualmente, a cirurgia me incomoda. Não é agradável pensar que teu rosto será desfigurado para ajustar uma estrutura grande como a mandíbula. Também tenho sérias restrições sobre as "mudanças estéticas". Convivo com a mesma mulher há quase oito anos e ela não parece muito insatisfeita. Até hoje, nenhuma outra representante do sexo oposto me disse: "se tu fosse menos QUEIXUDO, seria mais GATINHO". E, além de um tratamento de aproximadamente três anos e uma cirurgia grotesca, ainda insinuam a intenção de cortar minha língua e diminuir o potencial da minha versatilidade como AMANTE.

Saí da Santa Casa um tanto apreensivo. Me lembrei de Johnny vai à guerra. Mas minha preocupação primeira continua sendo conseguir dinheiro para alugar um apartamento e garantir o chopp de cada dia. Com ou sem dor.

Monday, April 09, 2007

Just remember



Maior interpretação da HISTÓRIA DE TODA A ARTE. Melhor filme, também.

R$ 12, 90 nas Americanas = deleite supremo.