Muita ternura
A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada, cheio de pitombas, escondido atrás de uma porta. Ignoro onde o vi, quando o vi, e se uma parte do caso remoto não desaguasse noutro posterior, julgá-lo-ia sonho. Talvez nem me recorde bem do vaso: é possível que a imagem, brilhante e esguia, permaneça por eu a ter comunicado a pessoas que a confirmaram. Assim, não conservo a lembrança de uma alfaia esquisita, mas a reprodução dela, corroborada por indivíduoas que lhe fixaram o conteúdo e a forma. De qualquer modo a aparição deve ter sido real. Inculcaram-me nesse tempo a noção de pitombas - e as pitombas me serviram para designar todos os objetos esféricos. Depois me explicaram que a generalização era um erro, e isto me perturbou.
[Graciliano Ramos, em Infância]
Esse é o melhor primeiro parágrafo de literatura brasileira que já li. Tão bom que parei de ler o livro algumas páginas depois e não sei quando vou retomar.
Da mesma forma, uma das primeiras lembranças importantes que tenho é a de estar atravessando uma ponte de madeira com um abacaxi nas mãos.
O que até agora pode ser compreendido como um resumo da minha vida: atravessar uma ponte de madeira carregando um abacaxi.
O abacaxi era espinhento e entre as frestas eu podia ver o rio, lá embaixo, não tão longe.
[Graciliano Ramos, em Infância]
Esse é o melhor primeiro parágrafo de literatura brasileira que já li. Tão bom que parei de ler o livro algumas páginas depois e não sei quando vou retomar.
Da mesma forma, uma das primeiras lembranças importantes que tenho é a de estar atravessando uma ponte de madeira com um abacaxi nas mãos.
O que até agora pode ser compreendido como um resumo da minha vida: atravessar uma ponte de madeira carregando um abacaxi.
O abacaxi era espinhento e entre as frestas eu podia ver o rio, lá embaixo, não tão longe.
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