Monday, October 03, 2005

Um domingo qualquer

Espera-se durante algum tempo para que vários fatores entrem em conjunção e proporcionem um domingo de felicidade futebolística: grande público, adversário forte, 50 mil torcedores inflamados. Mas eis que surge o terrorismo de estado a que pertencem os brigadianos de José Otávio Germano. E o sangue vermelho pula das faixas de torcida para a vida real.

E pensar que a balbúrdia toda começou bem perto de mim e do meu irmão, na arquibancada geral do Gigante. A príncípio não era nada além do que se costuma presenciar: dois ou três doentes mentais trocando empurrões. Descemos três lances de arquibancadas e eu disse: - A Brigada já vem vindo. E olha que eu disse isso realmente crédulo. Chegaram os bastiões da segurança pública e, como é de praxe, desceram o cassetete nos malandros. Com a experiência acumulada por anos de corre-corre no Beira-Rio fui para bem perto do portão, onde acompanhei os últimos lances do jogo com um olho no campo e outro na confusão. Quando acabou, o Eduardo e eu imediatamente saímos. A batalha continuava. Até aí tudo normal (normal acontecer em estádios, onde a brigada sempre mostra destempero), afinal esses putos maloqueiros reagem e jogam o que vem pela frente em cima dos homens fardados. Palhacéia de ambos os lados, dos bandidos da vila e dos bandidos de instituição, é bem mais comum do que todos gostariam.

O que não é normal é que os brigadianos continuassem a bater, bater e bater. E quando tudo parecia se acalmar, batiam de novo. E nos torcedores que gritavam o adjetivo suíno, batiam também. E noss que batiam palmas ironicamente, não hesitavam em descer a porrada. E nos que não faziam nada, porrada e porrada. E bombas. E balas de borracha. E uma espingarda calibre 12 apontada para pessoas que nada tinham a ver com a porcaria. Nessa altura eu estava acompanhando pelo rádio e não tinha a real noção do negócio até pessoas começarem a ligar para ver se eu estava VIVO. Foi no rádio também que ouvi o vice-presidente de Marketing do Inter informar que as bandeiras doadas pelo clube às crianças que aguardam o time no gramado tiveram suas hastes quebradas por representarem PERIGO. Pois mesmo já estando distante fiquei nervoso, até mesmo apavorado. E apenas quando vi as imagens percebi porque o bom jogo que Inter e Fluminese fizeram ficou em segundo plano.

Agora gostaria de agradecer publicamente ao senhor Secretário de Segurança. Agradecer por fazer a coitada da minha vó ligar aqui para casa apavorada, às 7 horas da manhã, quando ficou sabendo do que aconteceu. Agradecer também por reforçar o meu pensamento de temer a polícia militar. Por eu não poder mais sair de noite e não poder mais ficar parado DENTRO do pátio à noite. Por estar pensando em adquirir um colete à prova de balas. Por deixar traumatizadas as crianças que foram ontem ao Beira-Rio e que sempre ficam maravilhadas com as cores do estádio. Por me fazer entender agora porque muitos não vão a jogos.

E gostaria de agradecer principalmente por me elucidar de forma definitiva que TUDO ACABOU.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

ótimo texto sobre algo lamentável.

2:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Na minha casa (todos gremistas obviamente)há algum tempo substituímos as idas familiares ao Olímpico pelo Pay Per View. Bom texto.

8:04 PM  

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