Friday, May 30, 2008

Massa de manobra

Uma das piores pragas de nossos dias é o gregarismo gratuito. Tu chega em um restaurante praticamente vazio, esboça aquele sorriso de êxtase pela possibilidade de algum silêncio, escolhe uma mesa posicionada de forma diametralmente oposta à única que está ocupada, e senta. Acende um cigarro e arranca a orelha - pois a área é para fumantes e leprosos. Joga a orelha no chão, dá umas baforadas graúdas e olha para o nada. Para o nada não, geralmente para o balcão em que as coloridas garrafas se perfilam e para o garçom, que enxuga os pratos com um pano engordurado, desanimado. O primeiro casal que entra - e já na porta estão discutindo sobre o bife à parmegiana - inevitavelmente vai sentar na mesa imediatamente ao lado da sua. Provavelmente, num último resquício de humanidade antes de imergirem nas páginas do cardápio, eles devem pensar: "olha que coitadinho, está tão sozinho". Jamais passará pela cabeça deles que talvez tu não precise de humanos naquele exato instante. Ao menos não de humanos tão próximos. A cara de viciado em heroína do garçom, a uns seis metros de distância, já é uma boa amostra do que a espécie é capaz de proporcionar. Mas agora que eles se apiedaram de ti não há jeito. Eles sentarão bem pertinho para trocarem opiniões sobre a estréia da novela, a classificação do Brasil no "invésti greidi" e o terremoto na China. Há apenas duas formas de espantá-los, os gregários gratuitos: começar a emitir sons guturais, rasgar as próprias roupas e derramar-se cerveja ou andar armado com um maçarico.

Wednesday, May 14, 2008

Dia de marcação

No último sábado tive uma prova incorruptível da mudança abrupta de nosso tempo. Mal havia acordado e me aparece em casa, todo faceiro, o meu irmão, com toda a sabedoria proveniente de seus 19 anos de vida. No braço, uma tatuagem gigante do escudo do Inter, cercado por MOTIVOS TRIBAIS. Ficou realmente bonita, resultado da DESTREZA do tatuador e da beleza INATA do que foi desenhado. Acontece que durante minha adolescência sempre tentei convencer meus pais que nada teria de MEDONHO se eu fizesse algo semelhante, e em todas as ocasiões fui solenemente RECHAÇADO.

Agora, depois de velhos, resolveram se tornar LIBERAIS. Mas não perdem por esperar. Agora que sou um JOVEM ADULTO eles não poderão me impedir de tatuar nas costas, em tamanho natural, a cara do Renteria fumando cachimbo.