Wednesday, December 20, 2006

Patrão de todos os continentes

Até o final da década de 1980, eu era um torcedor confiante. Duas vezes vice-campeão brasileiro e uma participação nas semifinais da Libertadores causaram-me um sentimento de "um dia vai dar". Mas os anos foram passando e os fracassos vieram aos borbotões. Como se não bastasse, o rival crescia suas unhas, que se enrolavam e quase não conseguiam segurar os títulos que a agremiação da Azenha conquistava. Ninguém sabe como eu sofri na adolescência com aquele maldito time do Grêmio.

Nesses anos de penúria, sempre tive especial simpatia pelos pequenos torcedores, imaginando a disposição de espírito que eles precisaram ter para manter firme e forte o orgulho colorado. Passei a torcer muito mais pelo time por eles. Eu sabia que seria colorado sempre, não me importava com as flautas, mas não gostava de pensar que o fértil imaginário de um pequeno colorado não tivesse seus momentos de glórias extremas, que precisasse sempre se ocupar a fantasiar coisas menores, conquistas suspeitas e vitórias aleatórias.

Quando passou a maldita onda azul e o Inter voltou a crescer em vários aspectos - futebol, patrimônio, etc - meu desespero só aumentou. Meu principal medo era que o Inter novamente tivesse montado um bom time para não ganhar nada. Depois do Brasileiro de 2005, fui acometido de um sentimento de pânico. Quando o Inter chegou à final da Copa Libertadores, eu ingressei em tal estado de alucinação que nada mais tinha relevãncia.

Agora, fui agraciado com a maior conquista do mundo do futebol, que nem aquele demônio do Felipão conseguiu trazer para o Grêmio, e justamente em cima daquele bobalhão do Ronaldinho e das montanhas de dinheiro do Barcelona, a partir de agora tratado como "o mais ilustre filho dos colorados". Meu medo acabou.

Quando da conquista da Libertadores, um dirigente colorado afirmou com brilhantismo que "não foi um título, mas sim a libertação de um povo". A pressão que os colorados carregavam era grande demais, e talvez por isso a festa tenha sido tão angustiada e nervosa. Agora foi diferente, não havia tanto temor acumulado. Ontem, o Beira-Rio estava leve, fervoroso, alegre, para receber a menina dos olhos da história colorada. E posso garantir que nenhuma outra torcida brasileira mereceu tanto viver tal momento.

Wednesday, December 06, 2006

Assim, de repente

Na primeira vez que o vi, ele estava de chapéu, camisa e gravata para jogar um torneio de futebol da Fabico. Achei engraçado, mas meu espírito de jogador que pensava em ganhar a competição não permitiu elogiar a postura nonsense.

Não demorou para conhecê-lo, devido à proximidade com as mesmas pessoas. Também graças a sua espontaneidade e facilidade no convívio. Era inteligente, sem dúvida. Provocador, a seu modo, mas solícito como poucas pessoas.

Não era íntimo do Gabriel, mais por falta de oportunidade que de interesse. Nunca freqüentei sua casa, não por falta de convite. Era comum passarmos bastante tempo juntos na faculdade, em bares, encontros de amigos e festas.

Lembro de uma festa do Insanus no Dissonante quando já nos conhecíamos bem. Ele estava colocando som, em chamas como sempre. Igualmente transtornado, não resisti a um hit fatal seu e me pendurei na armação de ferro, em frente à mesa de som, sem camisa, pretendendo movimentos lascivos. Dançamos. Ele lá, eu pendurado. Lembro de outras muitas coisas, nesse mesmo espírito, e outras, mais civilizadas.

Na última quinta-feira, cheguei em um bar onde estava o Carlos, EGS, Suruba e ele. Fiquei feliz de ver os últimos três, fazia tempo que não nos encontrávamos. Gabriel falava de sua monografia e da formatura. Pensei como era legal abraçar pessoas que se formam, e assim seria com ele.

Explanava sobre músicas das quais Suruba e eu nunca havíamos ouvido falar, o que nos deixou com a impressão de velhice imediata. Depois, dançava com EGS, cantando a mesma música que eu ouvi no rádio na segunda-feira, dirigindo-me para o cemitério. Um clássico de nossas festas, componente da tríade do dance, como falou na ocasião. Uma nova festa do Insanus estava sendo cogitada. – Um negócio realmente legal.

Brindamos, sem motivo algum, provavelmente pelo simples fato de que éramos cinco amigos bebendo e conversando, numa noite de quinta-feira. E estávamos felizes, foi um momento realmente divertido. Na hora de sair, acertamos continuar em outro bar. Gabriel e Suruba não foram. – Qualquer dia nos falamos.

Ontem à noite, estava passando de carro pela Cidade Baixa e foi impossível não olhar para os lados e pensar que já havíamos nos encontrado em praticamente todos aqueles bares. Várias cenas me ocorreram. Mais tarde, voltando para casa com a Aline, ela foi mais direta e mais objetiva do que eu consigo ser. – Ainda é muito difícil de acreditar. Parece que ele vai aparecer por aí, assim, de repente.

Monday, December 04, 2006

Luto

Gabriel, amigo e mentor do Insanus, faleceu nessa segunda-feira após um acidente de automóvel. Não sei nem como escrever isso, nunca aceitei que pudesse acontecer com meus chegados, e estou profundamente revoltado. Ficam as lembranças. E elas são boas.