Friday, October 28, 2005

Chorando na vala

Não consigo parar de escutar Transfiguration of Vincent, do M. Ward. Nem hesito em afirmar que se trata de um dos dez melhores discos que já escutei na vida. Arranjos muito bem elaborados, respeitando aquele tênue limite que transforma a virtude em palhaçada, letras comoventes e uma voz de chorar no cantinho.

Os outros dele que escutei, End of Amnesia e Radio Transistor, também são excelentes, mas Transfiguration eu escuto no mínimo uma vez por dia. E isso já faz uns dezoito meses, mais ou menos. Uma das minhas favoritas, atualmente, é Fools says. Genial. Genial. Confere aí.

Fools says

Hey, I ain't never met anyone like you before
I ain't never met anyone like you before
I thought all the good ones were gone
You're here to tell me I was wrong

Hey, you ain't never met a fool like me before
You ain't never met a fool like me before
They told you all romantic fools had died
I'm here to tell you that they lied

You can't be always right my friend,
Come on and tell me I got it wrong again!

Hey, I ain't never seen anything like this before
I ain't never seen anything like this before
I thought all the mystery was gone
You're here to tell me I was wrong

You can't be always right my friend
Come on and tell me I got it wrong again

Hey, you ain't never met a fool like me before
You ain't never met a fool like me before
They told you all romantic fools had died
I'm here to tell you that they lied

Thursday, October 27, 2005

Sem título (baleia)

Conclusão inevitável depois de visitar a Bienal de Porto Alegre:

Quando eu tinha cinco anos eu era artista plástico e não sabia.

Me sinto um idiota toda vez que olho para cada 'obra' por mais de três segundos.

Monday, October 24, 2005

Transtorno geral

Esse referendo absurdo valeu a fortuna gasta e todos os seus inconvenientes apenas por proporcionar a seguinte notícia:

Votação selvagem

Encarregada da entrega das urnas no interior do Pará, uma equipe dos Correios foi atacada por um JACARÉ enquanto caminhava pela mata para chegar à localidade de Sacuri. Não houve feridos.

Ainda sobre a votação de ontem:

Mesário preso

SEM MOTIVO APARENTE, um mesário de 23 anos VOTOU NO LUGAR de um estudante de Direito de 20 anos na Escola Estadual Onofre Pires, em Santo Ângelo. O mesário, que já tinha votado, passou na frente do eleitor quando o jovem assinava seu nome na seção 34 e a urna eletrônica era liberada. [valeu, Antenor]

E não pára nunca:

Sem pressões

Uma reclamação de um eleitor do "Não" fez com que a juíza Gisele Silva Jardim, no Rio de Janeiro, decidisse retirar trabalhos escolares sobre a violência de colégios onde havia locais de votação do referendo sobre comércio das armas. O eleitor reclamou que se sentiu pressionado por DESENHOS DE CRIANÇAS pedindo PAZ e desarmamento nas paredes de um colégio na Tijuca, onde foi votar.

E tudo isso apenas na Zero Hora. Não quero nem imaginar o que vou ler ainda hoje.

Enquanto isso, no MUNDO NORMAL:

Candidato ao BBB6 acampa em frente à casa de Pedro Bial

Ele diz que só sai de lá se for selecionado para o programa. Enquanto isso, a produção vem recebendo fitas, que devem chegar a cem mil. [cortesia do Bruno]

Estou rindo há três horas.

Friday, October 21, 2005

Ufanismo

Brasileiro quando vê alguém penteado acha que é turista.

Thursday, October 20, 2005

Corneta

O cão inteligente

Descoberto finalmente por que, apesar de serem gênios, Chico Buarque de Holanda e Luis Fernando Verissimo são a favor do desarmamento: eles moram em Paris.

Já eu, que não sou gênio e moro na perigosa e conflagrada Chácara das Pedras, exijo um canhão para me defender.

"Não quero uma arma para matar. Quero-a para não morrer".

Sabem por que o escritor e jornalista Moacyr Scliar é a favor do desarmamento, ou seja, a favor de que só os bandidos possuam armas? Por que ele é imortal, ora bolas.

E se o Moacyr Scliar é a favor do desarmamento, por que, quando ele recebeu com o fardão uma espada na Academia Brasileira de Letras, não devolveu a espada?

Com uma espada escondida em casa é fácil querer desarmar os outros.
Por outro lado, temo pela sorte da Martha Medeiros. Contamina, em cima do muro, fica um alvo fácil para os ladrões armados da vizinhança.

Coluna do Paulo Sant'ana de hoje, tocando o horror, como de costume. Toda a coluna aqui.

Coisas que o futebol faz

Último lance de jogo, uma falta na intermediária ofensiva do Inter. Quem se posiciona para cobrar é Ceará. Geralmente , quem bate é o Jorge Wagner. Na hora pensei que às vezes os gols saem de lances atravessados, improváveis. Quem sabe o Ceará acerta. Exatamente atrás do gol, no lugar mais festeiro do estádio, todos estendem as mãos para baixo e fixam o olho no campo. E a bola é alçada para dentro da área, Rafael Sobis - que não fizera nada até então - desviou de cabeça. Santo desvio. Não precisava fazer nada, nem encostar na bola durante os 90 minutos, bastava aquele desvio. O sutil toque que matou a zaga castelhana e encontrou Fernandão no segundo pau. Na hora, ele troca de pé para matar o goleiro. Delírio. Apenas precedido por uma olhada de soslaio para o bandeira, que, graças a Deus, estava correndo para o meio do campo. Delírio como poucas vezes vi no Beira-Rio. Na minha frente, um cara igual ao Spike Lee acredita estar comandando a torcida com gestos raivosos. Ninguém olha pra ele. Ninguém olha pra nada. Os olhares estão em outro lugar, indefinível.

Tuesday, October 18, 2005

Fominha

Garrincha nunca pensara no futebol em termos de dinheiro. Ou em quaisquer outros termos. Não gostava de conversar sobre futebol, nunca viera ao Rio para assistir a um jogo e nem mesmo ouvia as partidas pelo rádio. Torcia vagamente pelo Flamengo - mas apenas porque, quando tinha seis anos, em 1939, o Flamengo fora campeão carioca com Domingos da Guia, Leônidas e Zizinho, de quem todo mundo falava. Em 1950, o Brasil perdera a Copa do Mundo, em pleno Maracanã, e ele nem lembrara de ouvir o jogo pelo alto-falante armado na praça. Foi pescar e, na volta, encontrou Pau Grande inteira chorando. Quando ficou sabendo por quê achou uma bobagem. O futebol só era bom pra jogar.

[Estrela Solitária - um brasileiro chamado Garrincha. Ruy Castro, Companhia das Letras, 1995]

Esse foi aquele cara todo TORTO, alguns chamavam até de aleijado, que não queria saber de ganhar as partidas nem de fazer gols. Queria apenas driblar loucamente, inclusive na direção de seu prórpio gol. Num jogo do Botafogo na Europa, o técnico Zezé Moreira pediu para o time segurar a bola no fim do segundo tempo. Quando a pelota caiu nos pés de Garrincha, ali ficou durante cinco minutos, até o apito do árbitro.

Friday, October 14, 2005

Novos tempos

Dia desses saiu uma chamada no rádio: "Papa diz não saber quem é Pelé". Acredito que durante seu papado ainda verei a manchete: "Ousado, Papa testa novo carro da Williams".

Para quem ainda não aderiu ao estilo do sumo pontíficie, aqui está a página dos fãs do RATZINGA.

Thursday, October 13, 2005

Nápoles não, Santo André mesmo

Tinha acabado de postar isso:

Investigação da morte de legista do caso Celso Daniel não exclui homicídio

Apesar de poucos indícios, a polícia não descarta a possibilidade de o médico-legista do caso Celso Daniel, Carlos Delmonte Printes, 55, ter sido assassinado. Como esta é a sétima pessoa que teve algum tipo de ligação com o caso e que morreu, as investigações devem abranger todas as hipóteses.

Não me surpreenderia se os irmãos do Celso Daniel morressem amanhã com o vírus EBOLA.

Quando volto para o site da Folha de São Paulo, me deparo com isso:

Promotor descarta morte natural no caso do legista

O promotor do 1º Tribunal do Júri de São Paulo, Marcelo Milani, afirmou nesta quinta-feira que a hipótese de morte natural está descartada no caso do legista Carlos Delmonte Printes e que as investigações devem prosseguir para averigüar duas possibilidades: suicídio ou homicídio, sendo uma das hipóteses a morte por envenenamento.

Agora só me resta crer que eles viram repetidas vezes a trilogia do Coppola e fizeram curso avançado na Camorra.

Wednesday, October 12, 2005

Conversa de louco

Declarações corinthianas no jornal O Lance de ontem afirmam que a iniciativa dos times que contestam a decisão do STJD trata-se de "choro de perdedor". Pensei que ao menos eles teriam a dignidade de ficarem bem quietinhos, fingindo que essa decisão não é uma marmelada.

Aliás, será que se o time do Parque São Jorge consagrar-se campeão e depois descobrir-se que a equipe é patrocinada por dinheiro irregular os resultados serão anulados também?

Friday, October 07, 2005

Madrugadas

Dirty Harry na lista negra (The dead pool) : vi de novo para confirmar que Clint Eastwood não chegou a pronunciar 100 palavras em sua carreira de ator. O genial é que 1/3 do filme envolve aquela perseguição com um carrinho de controle remoto.

O Indomado (Hud) : Paul Newman mostra porque os galãs de antigamente são mais carismáticos que os de hoje. Esse filme tem ainda as duas cenas mais triste envolvendo VACAS da história do cinema.

A morte passou perto (Killer's kiss) : não preencheu completamente a expectativa causada pela presença das palavras "boxeador", "decadência" e "cabaré" na sinopse e nem pelo fato de Kubrick dirigir. Ainda assim vale pela atmosfera noir. Mas CUIDADO, as legendas do DVD foram feitas por uma criança de seis anos.

Thursday, October 06, 2005

Ah, os gregários

Alguma boa alma poderia me explicar que lógica motiva as pessoas que entram em um bar ou restaurante a sentar na mesa posicionada exatamente atrás da tua, mesmo que todas as outras estejam desocupadas?

Eu procuro afastar esse desconforto fumando alucinadamente, na mesma proporção em que sou xingado ou olhado com nojo.

Monday, October 03, 2005

Um domingo qualquer

Espera-se durante algum tempo para que vários fatores entrem em conjunção e proporcionem um domingo de felicidade futebolística: grande público, adversário forte, 50 mil torcedores inflamados. Mas eis que surge o terrorismo de estado a que pertencem os brigadianos de José Otávio Germano. E o sangue vermelho pula das faixas de torcida para a vida real.

E pensar que a balbúrdia toda começou bem perto de mim e do meu irmão, na arquibancada geral do Gigante. A príncípio não era nada além do que se costuma presenciar: dois ou três doentes mentais trocando empurrões. Descemos três lances de arquibancadas e eu disse: - A Brigada já vem vindo. E olha que eu disse isso realmente crédulo. Chegaram os bastiões da segurança pública e, como é de praxe, desceram o cassetete nos malandros. Com a experiência acumulada por anos de corre-corre no Beira-Rio fui para bem perto do portão, onde acompanhei os últimos lances do jogo com um olho no campo e outro na confusão. Quando acabou, o Eduardo e eu imediatamente saímos. A batalha continuava. Até aí tudo normal (normal acontecer em estádios, onde a brigada sempre mostra destempero), afinal esses putos maloqueiros reagem e jogam o que vem pela frente em cima dos homens fardados. Palhacéia de ambos os lados, dos bandidos da vila e dos bandidos de instituição, é bem mais comum do que todos gostariam.

O que não é normal é que os brigadianos continuassem a bater, bater e bater. E quando tudo parecia se acalmar, batiam de novo. E nos torcedores que gritavam o adjetivo suíno, batiam também. E noss que batiam palmas ironicamente, não hesitavam em descer a porrada. E nos que não faziam nada, porrada e porrada. E bombas. E balas de borracha. E uma espingarda calibre 12 apontada para pessoas que nada tinham a ver com a porcaria. Nessa altura eu estava acompanhando pelo rádio e não tinha a real noção do negócio até pessoas começarem a ligar para ver se eu estava VIVO. Foi no rádio também que ouvi o vice-presidente de Marketing do Inter informar que as bandeiras doadas pelo clube às crianças que aguardam o time no gramado tiveram suas hastes quebradas por representarem PERIGO. Pois mesmo já estando distante fiquei nervoso, até mesmo apavorado. E apenas quando vi as imagens percebi porque o bom jogo que Inter e Fluminese fizeram ficou em segundo plano.

Agora gostaria de agradecer publicamente ao senhor Secretário de Segurança. Agradecer por fazer a coitada da minha vó ligar aqui para casa apavorada, às 7 horas da manhã, quando ficou sabendo do que aconteceu. Agradecer também por reforçar o meu pensamento de temer a polícia militar. Por eu não poder mais sair de noite e não poder mais ficar parado DENTRO do pátio à noite. Por estar pensando em adquirir um colete à prova de balas. Por deixar traumatizadas as crianças que foram ontem ao Beira-Rio e que sempre ficam maravilhadas com as cores do estádio. Por me fazer entender agora porque muitos não vão a jogos.

E gostaria de agradecer principalmente por me elucidar de forma definitiva que TUDO ACABOU.